Pitchfork: Clara Kant - I'm Not Going Anywhere REVIEW
- Kant Clara
- 12 de jun. de 2020
- 3 min de leitura
No caminho para criar seu novo álbum, Clara Kant se deparou com enormes desafios, não só profissionais, mas principalmente pessoais. A era que teve início na semana entre o Natal de 2018 e o Reveillon de 2019, fora bem representada por seu lead Hope You Forgive Him e mostraria que dali em diante a londrina seguiria um novo caminho de suas escolhas, ou pelo menos o pretendia fazer.
Inicialmente, a carreira de Clara é marcada por muitos momentos de glória e sua força e resiliência como o principal trunfo de seus dois últimos trabalhos - Consecrated e The Woman Who Could Not Cry - projetos estes que a viriam consagrar como um dos maiores nomes do gênero poprock na última década. O caminho para entender I'm Not Going Anywhere, porém, foge muito disso, independente do ângulo que se veja, se ouça ou se entenda.
Gray Tunnel a canção abertura nos traz uma áurea dark com batidas eletrônicas que mostram que o jeito confessional de cantar de Clara ainda é muito bem influenciado por Tori Amos e Alanis Morissette (anos 90), com a cantora sabendo aplicar seus vocais em sons mais contemporâneos. A produção nos dá uma imersão de que estamos num túnel realmente e ninguém sabe onde vai sair, e, na medida que vão se avançando seus metros, as percepções sobre você mesma e o mundo que se está inserido podem mudar, assim como realmente somos.
O bridge complementado por Firefox exprime conscientemente a ideia que coisas ruins e trágicas que são banalizadas hoje em dia devem parar e que a ansiedade e depressão não tem distinção de vítimas. Durante a primeira parte da audição, é possível perceber que suas produções e sons vão tomando outros ritmos, a voz da cantora se esforça em novas técnicas de uma forma que consiga se casar com a sonoridade e que faça com que o ouvinte a entenda. Mesmo falando de temas complexos, Kant reconhece o perigo de tornar a experiência pesada demais, como ocorrera com Consecrated e nos proporciona alívio, esperança e um pouco de leveza em faixas como Flashback..., Don't You Worry Baby e Precious Illusions, sempre as alternando com líricas mais sérias que tocam na ferida. Além disso, a intérprete é segura das coisas que sente e consegue transmitir a sensibilidade de cada uma em detrimento da falta de certeza e aparente presença do medo de correr mais riscos quando se é colocada sob os holofotes para todo mundo ver suas fraquezas que jamais deveriam ser expostas, como é pontuado em Nobody Told Me.
A partir de Doomsdays, parceria com o latino Kyeh, temos um direcionamento ainda mais complexo, que no entanto, não perde o seu brilho. Embalado por batidas traps, a imagem de super popstars dos dois intérpretes se anulam em pró de um bem maior, ser a voz de seus semelhantes, se igualando à eles. A sequência que se segue até The Power Of Healing revela não só sua vulnerabilidade e sua entrega de corpo e alma ao experimentalismo de se transformar artisticamente mas, que é impossível se transformar sem falhar, sem errar, sem se frustrar. Em Some Wings, faixa que encerra a experiência auditiva de praticamente uma hora, temos mais um mito quebrado, o da amizade para sempre. A produção se assimila mais à primeira parte do projeto, à old Clara Kant com a influência dos coros gospéis que se tornaram uma das marcas de sua carreira. Em I'm Not Going Anywhere, Clara Kant não tem certezas mas é aberta a sentir a dor, compaixão e encontrar o perdão para si mesma nessa jornada que é a vida ao entender que a imagem da perfeição um dia vai ruir. E Clara ruiu. Clara rompeu com as graças e glórias de sua zona de conforto. Clara se redescobriu que não está indo para lugar nenhum porque nunca haverá uma receita certa para irmos para o lugar correto. Clara entendeu que a sua vulnerabilidade é o seu maior ato de ousadia e que o risco de não se mostrar é o maior pecado que ela poderia cometer.
Para ouvir o álbum, clique aqui: https://empireforum.wixsite.com/home/forum/albums/clara-kant-i-m-not-going-anywhere
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